Conta a famosa fábula de La Fontaine que era uma vez uma cigarra e uma formiga. Enquanto a laboriosa formiguinha trabalhava incessantemente durante o verão para preparar-se para o inverno, a cigarra passava os dias e as noites a cantar, sem se preocupar com o amanhã. E ainda debochava de sua amiguinha, que só se dedicava ao trabalho não tendo tempo para se divertir. Pois bem, o verão se foi e o inverno chegou. Abastecida no aconchego de seu lar, a formiga ouviu um toc toc na porta. Ao abrir, deparou-se com a cigarra, enregelada e lhe pedindo ajuda. Moral da história: aquele que trabalha e sabe poupar sempre garante um futuro melhor do que os despreocupados que passam a vida a cantar.
Na vida real, porém, a coisa é um pouco diferente. O cantor e violonista Ítalo Ayala é um exemplo clássico. Natural de Governador Valadares, como milhares de brasileiros que vivem nos Estados Unidos, ele não veio para cá a fim de trabalhar como escravo. Quando se fala trabalhar, entenda-se mourejar em profissões que exigem esforço físico redobrado e muitas horas diárias. Afinal, os artistas também precisam trabalhar bastante, ensaiando e estudando, se quiserem ter sucesso em suas carreiras.
Mas para continuar dentro de nossa fábula, admitamos que Ítalo seja a cigarra da história. Afinal, cantar sempre foi sua arte e sua profissão. Artista desde os 14 anos na cidade mineira que se tornou estigma da imigração brasileira para os EUA, ele está há quatro anos aqui, morando na Flórida. Durante este período, mostrou sua arte em bares freqüentados pela comunidade brasileira, basicamente no Feijão com Arroz II, de Pompano Beach, e agora no Oba Oba, de Deerfield Beach.
Vencedor do Clube do Bolinha – Após ter-se lançado na carreira artística, Ítalo logo passou a ser um artista respeitado em Governador Valadares e região. Aos 15 anos já era cantor das bandas que se apresentavam em bailes de debutantes, casamentos, aniversários, quermesses e todos os tipos de bailes para os quais eram contratados.
A fama do menino precoce no mundo artístico regional levou Ítalo Ayala a inscrever-se no Clube do Bolinha, em 1990. Os mais antigos hão de se lembrar do refrão tocado no programa: “Bolinha / Bolinha / Está na hora de você entrar na linha”. O show era comandado por Édson ‘Bolinha’ Cury, um apresentador volumoso e simpático que garantia sempre pontos preciosos do Ibope para a TV Bandeirantes, juntamente com as “Boletes”, garotas bonitas que dançavam para acompanhar os candidatos.
O programa era respeitado pelos telespectadores e pelos calouros que viam na figura humana de Bolinha um sujeito que procurava incentivá-los em vez de expô-los a situações vexatórias. Nesta época, o valadarense tinha apenas 19 anos de idade.
A apresentação de Ítalo Ayala foi um sucesso. Venceu a competição naquele dia e foi repetindo a dose nas semanas seguintes. Ele ainda se lembra com emoção daqueles momentos: “Ganhei um carro de prêmio, um Chevette (um carro fabricado pela Chevrolet na época), e caí nas graças do Bolinha e do público de seu programa”.
Gravação de discos – Isto representou um grande impulso em sua carreira, que se traduziu até mesmo na gravação de seu primeiro LP – ainda era tempo dos discos de vinil. O disco foi um sucesso e vendeu cerca de 80 mil cópias, número representativo para um artista estreante.
A partir daí, sua carreira engrenou. “Fui ao programa da Xuxa, do Gugu, fiz shows por todo o Brasil e vivia tão somente da música”, recorda Ítalo. Ele era artista contratado do programa e a intenção de Bolinha era fazer com Ítalo Ayala o mesmo que o Chacrinha fez com Roberto Carlos no início de sua carreira.
O nosso artista da comunidade revelou um segredo: “O Bolinha estava acertando sua saída da TV Bandeirantes e assinando um contrato com a TV Globo”. Porém, a fatalidade evitou que isto se concretizasse. Em 1º de julho de 1998, o apresentador faleceu aos 62 anos, vítima de câncer.
A notícia representou um baque para Ítalo Ayala. Além da dor de ter perdido um amigo e seu principal mentor artístico, isto foi prejudicial para sua carreira: “Estava para assinar um contrato com a Sony Music. Quem estava conduzindo tudo era o Bolinha. Com a morte dele, o negócio acabou não se concretizando”, comentou.
Ritmo sertanejo - Bem, o jeito foi então tentar a carreira por conta própria. Ele gravou ainda dois CDs independentes, sendo um deles em parceria com Bruno, um artista também de Governador Valadares. O estilo preferido de Ítalo Ayala é o sertanejo. Ele tem inclusive composições gravadas por artistas como Christian e Ralph, Zezé di Camargo e Luciano, Donizete e outros.
Apesar de ser artista nato – a mãe é cantora e o pai violonista -, Ítalo sentiu que sua carreira estagnou no Brasil e resolveu vir para os EUA, onde seu pai vive há 19 anos. Ele até trabalha em outras atividades, mas a música é muito forte em sua vida e, assim, quem ganhou com isto foram os brasileiros que vivem na Flórida. Têm a oportunidade de assistir Ítalo Ayala ao vivo.
Aliás, quem quiser desfrutar da boa música deste artista não pode perder tempo. Ele confessou que está pretendendo retornar ao Brasil em breve para retomar sua carreira: “Já tenho contatos para gravar outro disco e convite para participar do programa Raul Gil. Minha idéia é morar em Governador Valadares, mas fazer carreira entre São Paulo e Rio de Janeiro”. O único problema é convencer a esposa Glace a voltar com ele. Mesmo sendo brasileira, ela é cidadã americana e está vivendo aqui há muito tempo. Daí...
Para conferir o trabalho de Ítalo Ayala, aqui vai a dica. Ele apresenta-se todos os sábados a partir das 8 horas da noite no Oba Oba (3994 West Hillsboro Boulevard), em Deerfield Beach. Lá, ele toca bastante baião e sertanejo para o pessoal aplaudir, dançar e cantar junto, matando a saudade da nossa terra.
Estão vendo só como ser cigarra é tão importante como ser formiga...
Saudades desse cantor. Podia voltar pro Brasil!
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